O Lenhador na visão Psicanalista
Autores:
ARAÚJO, Francineide. CABRAU, Karollyne. MAGDA, Marcela. LACERDA, Adalia.
SILVA, Alida. RAMALHO, Danubia.
RESUMO
O
personagem Walter a ser analisado, segundo nossa interpretação, apresenta
algumas características psicanalíticas como: estrutura clínica perversa, faz
uso dos mecanismos de defesa de intelectualização e negação para com seu
terapeuta, bem como constamos que Walter estabelece uma relação com Vicki (sua
namorada) embasada no mecanismo de sublimação. Por fim, detectamos também que
ele vivencia em toda trama um conflito que ocorre, entre o prazer sentido pelo
inconsciente e um desprazer experimentado pelo consciente, fazendo com que ora
ele evite locais que tenham crianças, ora inconscientemente ele se aproxima de
ambientes aonde há crianças.
Palavras-Chaves:
Pedofilia, perversão, psicanalise.
INTRODUÇÃO
O
filme a ser analisado neste trabalho trata-se de ''O Lenhador'', de forma
geral, tal enredo pode-se encaixar nos assuntos de pedofilia; inserção social e
preconceito. De forma bastante resumida, a obra cinematográfica acontece em
torno do Walter (personagem principal) vivido pelo autor Kevin Bacon, o qual
depois de longos anos cumprindo pena na prisão por abuso de menores, eis que
ele consegue a liberdade condicional (quando um condenado, ao invés de cumprir toda a pena na prisão,
é posto em liberdade se houver preenchido
determinadas condições impostas legalmente).
Depois dessa breve explicação
sobre a conjuntura em que se passa o filme detalharemos com maior ênfase na
análise do personagem Walter, com o intento de observar seu comportamento à luz
da teoria Freudiana, mais especificamente na temática das estruturas
psicanalíticas, assunto este abordado em sala de aula e o foco central deste
estudo.
DESENVOLVIMENTO
Depois de 12 anos de cumprimento
de sua pena o Walter se muda para uma pequena cidade do interior, passando a
morar em um simples apartamento que ficava em frente a uma escola primária,
obviamente, onde estava cheio de crianças. Sendo assim, buscando sua reinserção
social o Walter consegue um emprego em uma madeireira mantendo sempre uma
postura reservada, cautelosa e discreta, porém, mesmo com todo esse retraimento
o personagem principal começa uma relação afetiva-sexual com a personagem Vicki
interpretada pela Kyra Sedywick. Ao contrário do Walter a Vicki é bastante extrovertida
e em uma das cenas do filme ela promete não julgá-lo sobre hipótese alguma.
Entretanto, com o desenrolar da trama os seus colegas de trabalho tomam ciência
do seu passado criminal e não o compreende, começando então a julgá-lo, porém,
mesmo um pouco angustiada com tal descoberta a Vicki se mantém ao lado do
Walter durante toda a trama.
No que diz respeito a sua
relação com Vicki percebemos que o Walter utiliza do mecanismo de defesa
freudiano intitulado de sublimação, o qual é caracterizado como uma alteração
ou um deslocamento dos impulsos do id (atração por menores), desviando energia
instintiva para os comportamentos aceitáveis (relação com uma mulher da sua
faixa etária).
No que concerne a relação do
Walter estabelecida com o terapeuta constatamos que na maioria das vezes ele se
utiliza do mecanismo de defesa denominado racionalização, através do qual
Walter tenta reinterpretar o seu comportamento para torná-lo mais aceitável
para o terapeuta. Também observa-se que o Walter faz muito o uso da negação
para com o seu terapeuta, pois tal mecanismo é caracterizado como uma negação
da existência de uma ameaça exterior ou de um mecanismo traumático.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
(2001) a pedofilia encontra-se enquadrar nos transtornos de preferência sexual
ou parafilias, específicas e práticas sexuais
repetitivas e persistentes, exclusivamente em resposta a objetos ou situações
incomuns. Sendo assim, pedófilos são
pessoas adultas (homens ou mulheres) que possuem preferência sexual por
crianças, quer seja meninas ou meninos ou do mesmo sexo do adulto ou de sexo
diferente. Geralmente, eles preferem as crianças pré-púberes (ainda não
alcançaram a puberdade) ou no início da puberdade.
Conforme
observado pode-se perceber que o Walter possui uma organização perversa, porque
apesar de existirem diferentes sintomas, quadros clínicos e traços de
personalidade percebe-se que tal organização é mais adequada no plano da
sexualidade, e isso vem a reafirmar a ligação existente entre Walter e a
estrutura clínica perversa. Podemos apontar tais características observadas no
personagem e pontuadas na literatura de Zimerman:
·
Diferente do neurótico que reprime e, em
seguida, expressa seus anseios em forma de sintomas, o paciente perverso
manifesta seus anseios de forma direta na sua sexualidade.
·
Segundo Freud deve-se levar em conta
dois aspectos: a anormalidade dos impulsos sexuais (casos de sadismo,
masoquismo etc.) e a intenção a qual serão dirigidas as pulsões (casos de
homossexualidade e pedofilia, a qual seria o caso do Walter), nesse sentido o
objeto normal (desejo por pessoas da sua faixa etária) seria deslocado para um
antinatural (desejo por menores).
- Outro fato importante a ser destacado diz respeito a mudança de atitude do sujeito em relação ao significante, pois no decorrer do tempo e de alguns acontecimento o personagem consegue perceber que embora no começo do filme ele possua prazer consciente em molestar as crianças, o que é característico da perversão, ao desenrolar da trama percebemos que Walter toma consciência do sofrimento causado pelos seus atos aos outros fazendo com que ele evite lugares ou situações que envolvam crianças, apesar de inconscientemente ele escolhe morar justamente em frente a uma escola primária. Nesse sentido detectamos também algo da ordem do conflito prazer-desprazer.
CONCLUSÃO
Diante
do que foi dito sobre a análise da obra cinematográfica e sua relação com a
teoria psicanalítica na temática das estruturas clínicas constatamos que o
personagem principal Walter, o qual é foco principal desta análise encaixa-se
na definição Freudiana de estrutura perversa e diferente da grande maioria das
pessoas portadoras dessa estrutura, o Walter vivencia um conflito de
prazer-desprazer, pois ao mesmo tempo em que abusar de crianças é prazeroso
para ele no outro extremo ele toma consciência de que este seu desejo é
desprazeroso para as crianças e esta sua atração é tida como ilegal no âmbito
das leis jurídicas, como também na moral e ética da sociedade civil.
REFERÊNCIAS
OMS. Organização Mundial de Saúde. Relatório
sobre a saúde no mundo 2001: saúde mental – Nova concepção, nova esperança.
Genebra; 2001. Disponível em: <http://www.abebe.org.br/wp-content/uploads/oms2001.pdf>
ZIMERMAN,
D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Armed. Porto
Alegre. 1999. Pág: 253- 260
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